quinta-feira, 31 de maio de 2007

The Nightwatchman - The Road I Must Travel

Tom Morello comemorou ontem, dia 30 de Maio, 43 anos de vida e a Taberna assinala o seu aniversário com um vídeo do seu novo projecto a solo, intitulado de The Nightwatchman.



Morello é o mítico guitarrista de Rage Against the Machine (RATM), banda que anunciou o seu final no ano 2000, dada a saída do vocalista Zack de la Rocha. No ano seguinte, o grupo renasce, com novo nome e com novo vocalista. Audioslave, era o nome do projecto que juntava Chris Cornell, ex-vocalista dos Soundgarden, a Tom Morello, Tim Commerford e Brad Wilk, os restantes membros de RATM. Resultado, três discos gravados e um concerto ao vivo em Cuba. Depois de sete anos, já em Fevereiro deste ano, Cornell alega "conflitos pessoais e diferenças musicais" para justificar a sua saída de Audioslave. Tom Morello anuncia dias mais tarde, que os RATM estão de volta chegando mesmo a marcar três concertos nos EUA. Morello justifica esta acção com o facto de sentir que o seu país tem de acordar para a problemática da guerra, pretendendo com estes concertos alertar os americanos.


Mais recentemente e já no âmbito da apresentação do projecto The Nightwatchman, Thomas Morello passou por Portugal, fazendo a 1ª parte do concerto de Dave Mathews Band em Lisboa no passado dia 25 de Maio.

quarta-feira, 30 de maio de 2007

Greve Geral

Trabalhadores da Câmara Municipal do Porto




Trabalhadores da PORTUCEL (Palmela)




Trabalhadores da LISNAVE (Setúbal)


(fotos: da CGTP)

sábado, 26 de maio de 2007

Os Versos do Capitão









A RAINHA

Proclamei-te rainha.
Há-as mais altas do que tu, mais altas.
Há-as mais puras do que tu, mais puras.
Há-as mais belas do que tu, mais belas.

Mas tu és a rainha.

Quando vais pela rua,
ninguém te reconhece.
Ninguém vê a tua coroa de cristal, ninguém repara
na alfombra de ouro rubro
que pisas ao passar,
a alfombra que não existe.

E,quando surges,
todos os rios marulham
no meu corpo, os sinos
abalam o céu,
e um hino enche o mundo.

Apenas tu e eu,
apenas tu e eu, meu amor,
o escutamos.


Pablo Neruda manteve OS Versos do Capitão durante anos no anonimato. Escrito em "arrebatamentos de amor e fúria", no "clima desconsolado e ardente que lhe deu nascimento", este livro foi publicado entre o Canto general e Las Uvas y el Viento, por um lado, e as Odas elementales, por outro. Os seus versos são "ternos, amorosos, apaixonados e terríveis na sua cólera", e possuem paixão idêntica à que encontramos naqueles em que Pablo Neruda luta contra a injustiça.
Intervalo lírico e íntimo, onde o grande poeta chileno alcança a mesma intensidade de sentimento dos seus Veintes poemas de amor y una canción desesperada.

sexta-feira, 25 de maio de 2007

O Tempo das Giestas

"Meus Deus, como é possível? - murmura Teresa, parada no pequeno terraço, com os olhos perdidos no tapume por detrás do qual o rapaz desapareceu. Depois volta a apreciar o mural, aproxima-se, observa atentamente os motivos que o rapaz indicara: É esta a CASA dele - diz, em voz murmurada - bem mo dizia o coração. Desce os quatro degraus que separa o terraço do passeio e inicia o caminho inverso ao que a trouxe ali. Caminha devagar, absorta, concentrada no desfile de memórias que lhe enche o pensamento repetindo-se: Meu Deus, como é possível?, mais de meio século e é como se nada tivesse mudado, os mesmos SONHOS, as mesmas CERTEZAS, tudo igual... a tudo, àquele dia, àqueles dias, como se o tempo estivesse parado, como se só eu tivesse mudado."
Em "O Tempo das Giestas" de José Casanova.

quinta-feira, 24 de maio de 2007

terça-feira, 22 de maio de 2007

Histórias de Almanaque


A mulher estúpida

Um homem tinha uma mulher que era como o mar. O mar altera-se a cada sopro de vento, mas não aumenta nem diminui, nem muda de cor, nem de sabor, e também não fica nem mais duro nem mais mole; mas, depois de o vento passar, fica outra vez calmo, sem se ter transformado noutra coisa. E o homem teve de ir viajar.
Quando partiu, confiou à mulher tudo o que tinha - a casa, a oficina, a horta em redor da casa e o dinheiro que ganhara. «Tudo isto é meu, e também te pertence. Tens de tomar conta de tudo.»
Ela caíu-lhe ao pescoço, chorou e disse-lhe: «Como é que eu posso? Eu que sou uma mulher estúpida.» Mas ele olhou para ela e disse: «Se me amas, és capaz.» E despediu-se dela em seguida. E como a mulher ficasse sozinha, temeu por tudo o que fora confiado às suas fracas mãos e ficou apavorada. Por isso confiou no irmão, um homem mau, que a intrujou. Os bens foram assim diminuido a olhos vistos, e quando ela deu por isso ficou desesperada e não quis comer mais nada, para não diminuir ainda mais os seus haveres, e de noite também não dormia, o que fez com que adoecesse.
Para ali jazia no quarto, pelo que não podia olhar pela casa, que decaíu, o que levou o irmão a vender-lhe a horta e a oficina sem lhe dar conhecimento disso. A mulher lá estava deitada nas suas almofadas, não dizia nada e pensava: «Se eu não disser nada, não digo asneiras, e se não comer, não fico com menos coisas.» Aconteceu assim que, um dia, a casa teve de ser vendida em hasta pública. Veio muita gente de toda a parte, porque era uma bela casa. E a mulher estava deitada no seu quarto e ouvia as vozes e o som do martelo e as pessoas a rirem e a dizerem: «Chove pelo telhado, e a parede está a cair.» Sentiu-se então muito fraca e adormeceu.
Quando voltou a acordar, jazia num catre duro num quarto de madeira. Também só havia uma única janelita lá no alto e um vento frio invadia todos os recantos. Uma velha entrou no quarto e decompô-la asperamente, dizendo-lhe que a casa dela tinha sido vendida, mas que as dívidas ainda não estavam todas pagas e que ela vivia da caridade, mais pelo marido do que por ela. Pois este agora já não tinha nada. A mulher, ao ouvir isto, ficou confusa e um pouco desorientada; levantou-se da cama e começou a trabalhar desde esse dia na casa e nos campos. Andava vestida de andrajos, quase não comia e também nada ganhava, pois não exigia nada. Até que um dia ouviu dizer que o marido tinha voltado. Sentiu uma enorme angústia. Voltou logo para casa, escovou o cabelo e procurou uma belusa nova, mas não encontrou nenhuma.
E cruzou os braços sobre o peito murcho, para o dissimular. Saiu por uma pequena porta das traseiras e correu sem saber para onde.
Depois de ter corrido algum tempo, ocorreu-lhe que se tratava do marido, que viviam juntos, e que ela agora ia a fugir dele. Voltou-se logo para trás e correu em sentido inverso, não pensou mais na casa nem na oficina nem na blusa. Avistou o marido de longe e correu para ele, e pendurou-se-lhe ao pescoço.
O homem, porém, estava no meio da rua, e as pessoas riram-se dele atrás das portas. E ele ficou furioso. Mas tinha a mulher ao pescoço, que não afastava a cabeça dele nem desprendia os braços da sua nuca. E sentiu como ela tremia, e pensou que era de medo por ter deitado tudo a perder. Mas vejam só, ela ergueu finalmente o rosto para ele e ele viu então que não era de medo, mas de alegria, e que era de contentamento que ela tremia. Ocorreu-lhe então qualquer lembrança, e foi a vez de ele vacilar; enlaçou-a, sentiu que ela tinha emagrecido, e esmagou-lhe a boca com um beijo.

Bertold Brecht

quinta-feira, 17 de maio de 2007

António Nobre...Só.


E a vida foi, e é assim, e não melhora.
Esforço inútil. Tudo é ilusão.
Quantos não cismam nisso mesmo a esta hora
Com uma taça, ou um punhal na mão!

Mas a arte, o lar, um filho, António? Embora!
Quimeras, sonhos, bolas de sabão.
E a tortura do Além e quem lá mora!
Isso é, talvez, minha única aflição.

Toda a dor pode suportar-se, toda!
Mesmo a da noiva morta em plena boda,
Que por mortalha leva...essa que traz.

Mas uma mão: é a dor do pensamento!
Ai quem me dera entrar nesse convento
Que há além da morte e que se chama A PAZ!


Paris, 1891.

sexta-feira, 11 de maio de 2007

O libertino passeia por Braga, a idolàctrica, o seu esplendor

[Extractos]

Saio para a rua e vou à cata dos dois pequenos libertinos ricos. Passeio pelas ruas de Braga, sigo ora uma ora outra, deito olhares de megatoneladas, fumo. O cinema ainda não acabou. Vigio de longe o jogo amoroso duma mocinha a palrar na rua com um maçanito, muito gesticulosa, muito espalha-brasas, e com o corpo todo pendurado para cima dele que com a mão esquerda na algibeira vai entretendo o caralho com as promessas que a vista lhe está a demonstrar.

(...)Faço o meu primeiro engate de magala, na rua. Não me digam tragédias: é facílimo. É a coisa mais natural do mundo!

(...) -`tão, nada feito - diz a sua honra camponesa, e pela primeira vez noto como me apetecia aquele corpo, ser dono ou servo daquele aparato movediço de carne, pele, ossos, pêlos, força. E também me parece que ele está pronto a ir atrás de uma promessa, duma mentira qualquer, e que a recusa pela venda comercial é onde ele esconde sua pronta adesão. Talvez o seu vício. Mas para comercial, comercial e meio.

(...) Descemos um carreiro em bico à direita da estrada. Escuridão. É o lugar ideal para mijar, cagar ou brochar discretamente. Calculo que ele está a provocar-me com o caralho fora das calças, quer festa, mas eu estou muito senhor de mim.

(...) Volto para Braga. Mas o cinema já fechou. E como estou um bocado tonto, passeio um bocado. Onde será o 28? Volto para a pensão. Lá estão os dois rapazolas; ou serão outros, parecidos?

Pergunto:

- Que tal esse cinema?

- Não foi mau - responde com ar zangado.

Ora vão pró caralho! Não aturo meninos depois de ter tido homens na mão. Bebo não bebo mais verde? bebo não bebo mais cerveja? ou uma água Castelo? Fumo? Peço mais fiado? Volto a passear e aproveito para meter aqui o episódio da excursão vianense.

(...) Vou para a cama. O vinho pesa-me na cabeça. Bebo água fria para desenjoar a gorja. Durmo como um bendito. Acordo no escuro, cedo, 5 ou 6 horas, há um grupo na Pensão que se esta a levantar, batem portas. Estou excitadíssimo. O meu homem virá ao encontro? Onde o hei-de meter? Nestes quartos ouve-se tudo.

Abjecção. Remorsos. Decido não ir. Misturo a Deolinda com o António e sem mexer na picha estou quase a vir-me. De repente, tudo é tão violento que tenho de bater uma punheta.

Luiz Pacheco,
Contraponto, 1970.
Desenho de Carlos Ferreiro, Luiz Pacheco

Capital Inicial - Helicópteros no Céu

quarta-feira, 9 de maio de 2007

Comunidade

[Extractos]

Estendo o pé e toco com o calcanhar numa bochecha de carne macia e morna; viro-me para o lado esquerdo, de costas para o candeeiro; e bafeja-me um hálito calmo e suave; faço um gesto ao acaso no escuro e a mão, involuntária tenaz de dedos, pulso, sangue latejante, descai-me sobre um seio morno nu ou numa cabecita de bebé, com um tufo de penugem preta no cocuruto da careca, a moleirinha latejante; respiramos na boca uns dos outros, trocamos pernas e abraços, bafos suor uns com os outros, uns pelos outros, tão conchegados, tão embrulhados e enleados num mesmo calor como se as nossas veias e artérias transportassem o mesmo sangue girando, palpitassem, compassadamente, silenciosamente, duma igual vivificante seiva.

(...)

Somos cinco numa cama. Para a cabeceira, eu, a rapariga, o bebé de dias; para os pés o miúdo e a miúda mais pequena. Toco com o pé numa rosca de carne meiga e macia: é a pernita da Lina, que dorme à minha frente. Apago a luz cansado de ler parvoíces que só em português é possivel ler, e viro-me para o lado esquerdo: é um hálito levemente soprado, pedindo beijos no escuro que me embala até adormecer. Voltamo-nos, remexemos, tomados pelo medo de estarmos vivos, pela alegria dos sonhos, quem sabe!, e encontramos, chocamos carne, carne que não é nossa, que é um exagero, um a-mais do nosso corpo mas aqui, tão perto e tão quente, é como se fosse nossa carne também: agarrada (palpitante, latejando) pelos nossos dedos; calada (dormindo, confiante) encostada ao nosso suor.

(...)

Luiz Pacheco,
("Comunidade", Contraponto, 1964)

segunda-feira, 7 de maio de 2007

Editorial

Entrámos no mês de Maio. A primavera já chegou, é tempo de recomeço da vida, costuma-se dizer. Na natureza tudo renasce e nasce. Pelo país fora multiplicam-se festas populares. Ontem Alberto João ganhou as eleições no jardim da Madeira... surpresa!!! Não fosse ele e os seus deputados os Patrões da esmagadora maioria da população. Em França venceu o candidato da direita, nada de bom. Mas avanços também se dão, Hugo Chávez, anunciou um conjunto de medidas na continuação da chamada Revolução Bolivariana, aumentos significativos para os trabalhadores e nova fase na nacionalização do petróleo.
Mas, Maio, é tempo de balanços também.
Realiza-se mais uma edição do Super Bock, Super Rock tirando a propaganda a uma marca de uma empresa do sr. Pires de Lima que respeita pouco os seus trabalhadores valerá certamente a pena por alguns dos concertos.
Maio é o último mês antes do inicio de três meses em que parte dos portugueses irão de férias aos poucos. Parte porque nem todos terão esse direito, para alguns (muitos) as férias servirão para ficarem fechados em casa a multiplicar as amarguras do resto do ano e o dinheiro do subsídio (para os que o têm, já que muitos dos milhares de precários nem a isso têm direito) servirá apenas para reduzir as dívidas.
Maio começou com enormes manifestações do dia do trabalhador e terminará com uma Greve Geral, há quem diga que esta não se justifica... Fica a pergunta o que se faz quando os salários pouco aumentam, os preços aumentam brutalmente, os grupos económicos tem lucros de milhões e milhões o Governo aprova uma lei das praças de Jorna (mais conhecida por trabalho temporário), prepara-se para aprovar o despedimento sem justa causa conhecido pelo pomposo termo de "Flexisegurança"... o que se faz perante isto tudo? certamente que quem diz que não se justifica uma Greve acha que perante isto se devia assobiar. Mas assobiem eles.
Quanto à Taberna, que atingiu este mês as duas mil visitas, comemorou e reivindicou o 1º de Maio e celebra agora o 82º aniversário de Luiz Pacheco. Força!

Parabéns Pacheco!

Luís José Gomes Machado Guerreiro Pacheco, nasceu a 7 de Maio de 1925 em Lisboa. Escritor, editor, polemista, etc., certamente que foi tudo aquilo que queria ser, disse tudo o que tinha para dizer. E ainda diz, felizmente. A Taberna dá os parabéns a Luiz Pacheco com um pequeno filme que assinala o início de uma semana que lhe será dedicada. Parabéns Pacheco!

Fontes:
Entrevista de Miriam Assor / Correio Domingo 2007-04-08
Entrevista de Pedro Dias de Almeida / VISÃO nº 652 1 Set. 2005
Filme de António José de Almeida / Luiz Pacheco, Mais um Dia de Noite
Música de Astor Piazzola / Adios Nonino, do albúm com o mesmo nome

sexta-feira, 4 de maio de 2007

Histórias de Almanaque


O médico Hunain e o Califa

O médico Hunain foi chamado à presença do califa. O califa queria veneno para os seus inimigos. Prometeu ao médico riquezas se ele obedecesse e a prisão, se levantasse dificuldades.
Depois de passar um ano na cadeia, Hunain foi de novo arrastado até à base do trono. De um lado, amontoavam-se pedras preciosas, no outro lado viam-se instrumentos de tortura. O califa apontou com o dedo primeiro para um monte, depois para o outro.
«O que é que vai ser?» perguntou ele. Hunain respondeu-lhe: «Eu só aprendi a arte de curar, mais nenhuma outra.» O califa fez sinal ao carrasco e Hunain, sentindo chegada a hora derradeira, disse: «No dia do juízo, Deus me recompensará. Se o califa quer cometer um pecado, isso é lá com ele.» O sorriso do califa quebrou a tensão. Nunca fora sua intensão ferir o médico; apenas queria pôr à prova a sua honestidade.

Bertold Brecht

quarta-feira, 2 de maio de 2007